terça-feira, 30 de agosto de 2011

Músico por caridade


"Gostaria que falassem pra um médico, advogado, arquiteto ou engenheiro: "Venha e trabalhe! Não tem dinheiro mas é bom pra divulgar, pra que as pessoas conheçam seu trabalho. Você vai agradecer o espaço e a oportunidade!"

Tem gente que acha que a música não é, também, uma profissão e sim um hobby. Que todos os músicos são ricos e/ou não precisam pagar serviços e fazer compras pra viver, que por isso somente precisam de divulgação do trabalho..."





Vi esse texto num contato do Facebook e copiei pro meu perfil. Bem verdadeiro, não acham? Por coincidência, eu queria falar sobre algo parecido esta semana, então não vou perder esta deixa.

A mentalidade das pessoas em relação ao músico é justamente o que foi escrito acima. É muita cara de pau dos donos da maiorias dos bares falar algo do tipo, como se músico não tivesse contas a pagar. Quando não propõe uma asneira dessas, pagam uma mixaria que até um flanelinha deve tirar mais numa tarde.

Vamos lá, hora da matemática musical: o camarada propõe pagar 200 paus pra banda. Imaginemos um grupo padrão, pequeno: vocal, guitarra, baixo e bateria. Quatro caras, então temos 50 reais pra cada um. Mas e os gastos da banda? Não é difícil manter um instrumento: essas coisas são CARAS no Brasil. Por exemplo, cordas novas pra um violão saem por 40 reais, e elas devem ser trocadas constantemente. Alguns bares nem ao menos tem equipamento, então a banda tem que levar sua aparelhagem também. Fora isso temos gasto com condução, alimentação e coisas do tipo, além do tempo em si estudando e ensaiando pra fazer o melhor na noite. Desses 200 paus, quanto sobra pra cada um, REALMENTE? Cinco reais? O resultado é que na maioria das vezes o músico PAGA pra tocar, pra algo que muitas vezes não dá retorno nenhum.

Infelizmente, todos possuem uma parcela de culpa nessa situação.

A primeira, claro, é da ganância dos próprios donos de bares. Existem alguns que valorizam os músicos, mas a grande maioria é composta por grandes filhos da puta que estão pouco se cagando pra quem está no palco. Pagam mal e muitas vezes exigem que o artista passe da hora se apresentando. Felizmente, donos de estabelecimentos com esse tipo de estabelecimento estão sujeitos à falência, na maioria das vezes. Só um detalhe: não apenas donos de bares, porque o meio está cheio de gente aproveitadora. Cansei de receber propostas de "eventos beneficentes", oferecendo ajuda de custo... vão chamar a Xuxa pra trampo de tipo, porque ela sim tá com a vida feita.

A próxima parcela de culpa está no público. Sim, nele mesmo. Muitos não se interessam por coisas novas e não estão dispostos a pagar um valor mínimo pra curtir algo diferente. É a típica platéia de ocasião, que vai pra encher a cara e ouvir as modinhas de sempre. Só passa a se interessar se está na moda, se a mídia começou a falar sobre o assunto. Entretanto, nem todos são assim (aliás, o bom do meio do rock é que muitos vão nos bares e seguem as bandas porque são fãs mesmo).

Finalmente, os grandes culpados dessa situação: os MÚSICOS! Hoje em dia, todo mundo quer ter uma banda, mesmo sem talento nenhum. Isso cria uma situação em que bandas de péssima qualidade se sujeitam a qualquer mixaria ou contrato abusivo. Tocar por uma coxinha e uma latinha de cerveja? Vambora! Então, de 10 bandas, temos uma boa e séria: as outras são porcarias que reúnem os amigos e fazem "música por diversão". E são justamente esses miseráveis posers que tomaram conta de tudo, que jogaram no lixo todo o trabalho do artista sério, que vê a música como profissão mesmo, não só "sexo, drogas e rock'n'roll".

Qual a solução pra tudo isso então? Acredito numa união dos músicos, que não deveriam se sujeitar a qualquer porcaria. Sério, é mais fácil pra vocês ficarem em casa ensaiando do que tocar em botecos por ninharia. Se as boas bandas se conscientizassem, os bares só teriam grupos ruins à disposição e logo a qualidade da casa em si cairia, forçando-os a procurarem bons grupos (isso se já não tiverem falido, porque recuperar uma reputação suja é foda).

E, claro, o público também deveria valorizar mais o artista. Saber diferenciar uma banda que leva seu trampo à sério daqueles que estão tirando onda na noite. Sério, viver de música no Brasil é MUITO difícil. Deviam fazer um evento beneficente pra mim, isso sim!

Enfim, hoje escrevi além da conta. Só um simpático esclarecimento sobre a situação do panorama musical atual.

Aproveitando a deixa, conheçam minha banda: http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/madds.

Preciso de grana. ;)

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