segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um trote é sempre um trote


Eu não sei se sou muito chato, mas simplesmente não vejo graça nenhuma nos trotes universitários. São atitutes extremamente cretinas, que não condizem com os profissionais que se formarão nos próximos anos. Mas, pra mim, o verdadeiro absurdo não é a realização do trote, mas alguém permitir ser zoado dessa maneira.

O trote é uma combinação de veteranos buscando auto-afirmação com calouros buscando aceitação, tudo isso numa grande desculpa pra encher a cara e agir de forma ainda mais estúpida que o normal. Ah, sim, e como falei, por pessoas que serão os futuros médicos, advogados, engenheiros e etc do país!

Por que as pessoas se sujeitam a este tipo de humilhação? Pra ser aceito num grupo? Pra provar camaradagem? Isso é algo que realmente não consigo entender.

Eu não precisei da aceitação de ninguém quando fiz faculdade. Passei pelo meu departamento, mas não participei de nada. E eu lá vou deixar algum miserável jogar tinta, ovo ou sei lá o que em mim? Ainda lembro que vi alguns idiotas amarrados numa corda, obedecendo "ordens" dos veteranos.

Amargo, eu? Não sei brincar? Não, não, eu só me valorizo mais do que tudo mesmo. E todo mundo deveria ser assim.

Nada disso combina comigo. Eu tenho um sério problema com "autoridade"... nunca deixei ninguém mandar eu fazer isso ou aquilo, ainda mais dessa maneira. E muito menos preciso que algum grupo me aceite. Sério, as pessoas não me fazem falta nenhuma, justamente porque são poucas que me despertam admiração.

Alguns dos "melhores momentos" do trote estudantil ao longo dos anos:

- Em 1980, Carlos Alberto de Souza, de 20 anos, calouro do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (SP), morreu de traumatismo cranioencefálico, resultante das agressões praticadas por estudantes veteranos.

- Em 1990, George Mattos, de 23 anos, calouro do curso de Direito da Fundação de Ensino Superior de Rio Verde (GO), morreu de uma parada cardíaca quando tentava fugir de veteranos que iam lhe aplicar um trote.

- Em 22 de fevereiro de 1999, o estudante Edison Tsung Chi Hsueh tornou-se conhecido quando foi vítima de trote com consequências fatais. Esse calouro de família chinesa, aprovado na Faculdade de Medicina da USP, faleceu nesta data, afogado em uma piscina.

- Em 10 de fevereiro de 2009, o calouro Bruno César Ferreira, de 21 anos ia começar o curso de veterinária da Faculdade Anhanguera, em Leme, interior de São Paulo. Além de ser obrigado a ingerir bebidas, e ter entrado em coma alcoólico, o calouro também teve de rolar em uma lona com animais mortos e fezes em decomposição. "Eles esfregaram na gente. Fizeram a gente rolar numa lona com aquilo e ingerir pinga", conta ele.

- Em 2009, o aluno Vitor Vicente de Macedo Silva, 22 anos, do Departamento de Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro morreu afogado numa piscina de saltos ornamentais (9 m de profundidade). Segundo se suspeita, ele teria sido forçado a entrar na piscina mesmo sem saber nadar.

- Em 2010, estudantes da Unicastelo, em Fernandópolis, foram obrigados a fumar, tirar as roupas íntimas, pedir dinheiro em semáforos e até beber álcool combustível. No mesmo período, na Escola Superior de Propaganda e Marketing, também em São Paulo, um estudante foi agredido, e teve ossos do nariz e do rosto quebrados.

Eu acredito que um trote é sempre um trote: não há porque classificá-lo como violentos ou não. A menos, claro, que algum idiota tenha tendências masoquistas e realmente goste de receber ordens ou ser zoado de alguma maneira em busca de aceitação.

É, eu sei... as pessoas são patéticas mesmo.

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